terça-feira, 19 de junho de 2007

As cigarras



11 de dezembro de 1990.

A primavera é saudada no Vale do Paranapanema, por um coral diferente. Ele se apresenta desde o raiar do dia e se estende ao anoitecer. Seus componentes cantam de graça sem se preocupar, se agradam ou não os ouvintes.
São as cigarras que às centenas, pousam nos arvoredos e dão vazão à muita alegria. A cantoria tem início com um prelúdio a uma voz e que , num passe de mágica é acompanhado por dezenas de vozes formando um estridente coral. Há algumas cujo canto sobressai o das outras. São as solistas.
Ouvi-las ainda ao amanhecer, no aconchego de uma cama, nosso pensamento começa a devanear. Que bom seria se a vida fosse uma eterna alegria, sem preocupação, sem declínio, como das cigarras tão despreocupadas que o dia se torna mais radiante, o canto se torna cada vez mais alto até encobrir o chilrear dos pássaros.
Cansam-se, param para recomeçar tudo de novo. Assim vão o dia todo. Mesmo com o Sol a pino , não param de cantar.
Conforme o nosso estado de espírito a cantoria ora é alegre, ora melancólica e muitas vezes , irritadiça.
Na minha infância costumava ficar embaixo das árvores para ver se caíam mortas, pois diziam que a cigarra canta para morrer.
Creio que era lenda pois só conseguia apanhá-las vivas.
Embora o fabulista grego Esopo imortalizasse-as como preguiçosas que vivem no " doce far niente", sem trabalhar, ao contrário da formiga, mesmo assim eu as admiro, pois quem canta , seus males espanta.
Felizes aqueles que trazem alegria no coração e sabem traduzi-la cantando.

VOVÓ GUITA