terça-feira, 12 de junho de 2007

Os mestres mudos



07 de julho de 1989.

Tomo um a um os livros das estantes para limpá-los. Retenho-os nas mãos, passo os olhos em suas páginas e meus pensamentos começam a viajar por entre as brumas do passado. São livros que me acompanham desde a adolescência, amarelecidos pelo tempo e outros mais novos, dos meus filhos. A ortografia de uns não bate com a de outros. Também a nossa ortografia é como a nossa moeda, passa por metamorfoses: às vezes se escreve de um modo outras vezes de outro. Antes havia certas regras para acentuação, hoje não sei se as há. Desde o meu tempo de estudante que as palavras em francês levam os mesmos acentos. Agora, quando escrevo estou sempre na dúvida.
Revejo livros de Machado de Assis, o grande escritor de Quincas Borba, O Alienista, Helena e muitos outros, cujo sequicentenário de nascimento é comemorado este ano. Eça de Queiroz, José de Alencar, Camilo Castelo Branco, Júlio Diniz vão sendo recordados.
Os contemporâneos como Érico Veríssimo (tenho predileção por seus livros) Jorge Amado, Gilberto Freyre também são revistos. Alguns romances que fizeram época na minha mocidade merecem reparo devido a ação do tempo: O Corcunda de Notre Dame (Victor Hugo), Cidadela, Noites de Vigília (A.J.Cronin), Quo Vadis e mais alguns.
Chamam-me a atenção os livros escolares. Detenho- me neles. Santo Deus! Como minhas filhas que fizeram a USP estudaram : Textos Arcáicos, Textos Latinos, As Catilinárias, Dicionário Francês e Espanhol, romances nessas línguas e até livros em italiano. Como as fiz estudar!
Neste país em que há tanta inversão de valores, parece até aberração estudar tanto. E pensar que há certos inúteis fazendo leis a torto e direito, engabelando o povo com uma Constituição falha e inacabada, dá pena, muita pena.
Enquanto os professores reinvidicam um salário decente, digno com sua profissão, os nossos marajás digníssimos deputados, agarram-se com unhas e dentes à Carteira de Previdência de Aposentadoria da classse, com medo de extingui-la, não lhes sobrando a vergonhosa aposentadoria de oito anos de ociosidade.
Ainda bem que as minhas netas não querem ser professoras e ninguém as estimula a abraçar essa profissão hoje tão desrespeitada.
Nossos congressistas não necessitam estudar tanto, para conseguir tamanho privilégio. Nosso povo, a maioria subdesenvolvido, pode ser facilmente manipulado. É só ter lábia e jogo de cintura.

VOVÓ GUITA