quarta-feira, 2 de maio de 2007

Trivialidades

FOTO: NILZA CARBONI(VOVÓ GUITA) & SIMONE CARBONI ( NETA)

Foto: Casa de Nilza Guimarães Carboni na cidade de Jaú

Jaú, 12 de março de 1987.

Enquanto nossa Constituição está sendo cozida em banho-maria, o melhor é refrescar a cuca, com coisas banais.
Ela está naquela idade bonita, que mereceu de Machado de Assis aqueles versos:
" Menina Moça"
" Está naquela idade duvidosa
Que não é dia claro e é já o alvorecer;
Entre aberto o botão, entre fechado a rosa;
Um pouco menina e um pouco mulher".
Está começando a ter independência e indivudualidade, não deixando dominar-se com facilidade.
Tem um jeitinho tímido, gosta de ler e não dispensa televisão.
Dei-lhe uns livros da coleção : " Menina e moça", que já passaram pelas mãos de sua mãe e tias.
Parece-me que gostou. Enquanto seus endiabrados irmãos põem a casa de pernas para o ar à procura de selos antigos para coleção ( bem diziam os antigos: " Onde há criança, coisa ruim não esconde") ela perscruta tudo. Tem espírito arguto, crítico.
-Vó , sua casa parece um museu de antiguidade. Por que você não troca tudo por coisas modernas?
Passo os olhos e concordo em pensamento: " É mesmo, há coisas do tempo em que se amarrava cachorro com linguiça".
Mas, sou conservadora. Cada peça tem uma história, uma recordação.
Até o meu velho sofá sofreu suas críticas.
Então retorqui :
-Você está parecendo o Bocage.
E antes que ela fizesse aquela pergunta irreverente tão comum nos adolecentes de hoje : " Quem é esse cara?", eu lhe expliquei que era um poeta português, que usava seu talento poético para fazer críticas, sátiras.
-Certa vez ele criticou um sofá que eles chamavam canapé, não de maneira como você fez, à queima- roupa, mas, de um modo sutil, através de versos.
Disse-lhe o epigrama de Bocage referindo-se ao sofá:
" Quando a antiguidade
Por essa casa entrou,
Disse àquele canapé:
- Sua benção meu avô".
Minha neta não se deu por vencida. Com olhar gaiato, fez mesuras ao meu sofá:
- Sua benção , meu bisavô.


QUEBRA-CABEÇA:


A estrada

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FOTO DO RIO TURVO

Jaú, 15 de julho de 1986.

Entre São Pedro do Turvo e Santa Cruz do Rio Pardo, há o rio Turvo que separa os dois municípios e uma estrada que os une.
Essa estrada, embora precária, era passagem obrigatória para os são pedrenses que iam para São Paulo,fazer compras e para nós, estudantes de Botucatu.
De Santa Cruz, tomávamos o trenzinho ( a Maria Fumaça) e íamos até Bernardino de Campos apanhar o tronco da Sorocabana. Santa Cruz era um ramal da ferrovia.
Daquela estrada guardo recordações: Umas alegres, outras amargas. Alegres quando, nas férias, o nosso fordinho (pé de bode) a transpunha aos trancos e barrancos e chegávamos sãs e salvas, mas felizes, para assistir a um cinema ou baile em Santa Cruz.
As horas amargas, corriam por conta das chuvas que a deixava intransitável. Aí era um suplício! O ford bailava na estrada escorregadia. Não obedecia a direção. Era o senhor da situação! Teimava em ir onde queria, até atolar-se e não sair do lugar. Então não havia remédio senão deixar o turrão e empurrá-lo. Catava-se galhos de árvores, colocava-se sob a roda atolada e se isso não bastasse, usava-se o macaco.Se não andar naquele barro escorregadio? Patinava-se sem ter patins.éramos equilibristas. A subida das Perobas e o hotel do Tufic eram os locais do suplício. O hotel do Tufic ganhou esse nome porque seu Tufic encalhou o carro e teve que passar a noite no local. A irreverência do povo batizou-o assim...
Mas a ponte do Turvo e a estrada serviam de pretexto aos políticos que apareciam em São Pedro à cata de votos. Era sempre assim! Esquecíamos que tínhamos sido ludibriados e púnhamos fé nas promessas que íam aparecendo. São Pedro precisava escoar a produção, acabar com o sofrimento na estrada. Acontece que os políticos de Santa Cruz não liam na mesma cartilha dos políticos de São Pedro. Meu cunhado criou o Ginásio, fez a rede de esgotos em São Pedro e nada de estrada! Faltava a cooperação dos políticos de Santa Cruz. O melhor era voltar-se para Ourinhos. E saiu a estrada asfaltada, tão desejada e Ourinhos carreou os produtos e o comércio de São Pedro.
Hoje soube que o secretário dos Transportes prometeu asfaltar a estrada de Santa Cruz a São Pedro. Alvíssaras!!! Depois de mais de cinquenta anos de espera, eis a notícia alvissadeira! Também vocês não acham que sou uma velha implicante, ranzinza? Jacob serviu Labão tantos anos por causa de Raquel e ainda achou que para tão longo amor, tão curta a vida!
Pois é, para sair a estrada, tão curta a vida!

(a)-(N. G. C.)
VOVÓ GUITA

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