domingo, 22 de abril de 2007

Jaú, 02 de abril de 1986

Meu Neto

Lendo hoje o jornal deparei com uma notícia alvissareira.
Nosso atual ministro da Educação, Jorge Bornhausen (êta nome difícil de escrever) foi dar umas voltinhas no Norte para ver como ia nossa cultura por lá. Considerou sua viagem absolutamente válida, pois, constatou, estarrecido, que uma professora em Alagoas ganha um sexto do salário mínimo, cento e trinta cruzados (Cz$130,00).
Mas, pergunto eu, desde quando alguém valorizou o trabalho do profesor nestes últimos anos? Nossa Educação não foi relegada ao segundo plano? Nossos políticos não acharam mais fácil manipular o analfabeto? Se o povo ficar sabido vai ser mais exigente e a cobrança será maior, não é ?
Se o nosso ministro fosse um pouco mais para o Norte, decerto seu espanto seria maior.
Certo dia perguntei à empregada da minha filha que tinha vindo da zona da seca, em Pernambuco, se onde ela morava não havia professora. Maria ( era seu nome ) mal sabia ler.
"Vige, tem sim. mais ela tem que trabaiá na " frente" pruquê ganha mais".
"Frente" era a frente de trabalho que o governo criou para dar ganho às vítimas da seca.
Abrindo açudes, cavando a terra, a professora encontraria subsistência que não encontraria dando aula!
Nosso ministro descobriu com os próprios olhos como nossos políticos valorizam o professor! Pelo que li, prometeu mudar. Alvíssaras!
Ser professor no Brasil é ser abnegado, dócil, ter um imenso amor à profissão, apoiar - se tão somente na recompensa espiritual e moral ao dar visão aos cegos da ignorância, porque a falta de apoio material não faz jus à tão nobre missão!

VOVÓ GUITA





Carta do Leitor

Jaú, 21 de Março de 1986

Rememorando os tempos passados ( minha mãe dizia de "antanho") minha professora primária ensinava na aula de ciências que o sapo passava por mudanças de forma. E dizia com ênfase :"Essa mudança chama-se metamorfose. Repitam comigo esta palavra" E a classe em uníssono respondia : " Metamorfose".
Além do sapo ser asqueroso (Tiana, nossa babá, dizia que ele fazia xixi no olho da criança que o cutucava, deixando-a cega) ainda carregava palavra tão difícil.
Então eu associava o sapo à " metamorfose". Com o passar dos anos , porém, vi que não era só o sapo que tinha este privilégio. Nossos usos,costumes, nossa língua e até nossa
religião passavam por metamorfoses.
Na primeira infância e juventude, tinha-se um apreço tão grande à religião ( eu tenho até hoje, graças à Deus) que a criança era preparada, moldada, para que seus atos fizessem jus aos mandamentos de Deus. O catecismo fazia parte da educação. Era tão estudado quanto um livro de leitura. Tinha-se tanto respeito à Igreja quer na maneira de trajar, como se portar dentro
dela.Tomava-se comunhão em jejum com a cabeça coberta por um véu. As mães preocupavam-se com a educação espiritual dos filhos para que crescessem tementes a Deus.
Quanta metamorfose! Hoje são raras as mães que se preocupam com uma orientação religiosa aos filhos, seja qual for a religião. Esta é um baluarte que serve de alicerce à conduta do indivíduo.
O nosso País, meu neto, já passou por
situações bem piores que esta e não me lembro de haver trombadinhas assaltantes e outros delinquentes. As portas das casas estavam sempre abertas, as crianças que moravam nos sítios caminhavam quilômetros à pé rumo à escola, sem que ninguém as molestasse. Havia o respeito mútuo, o amor ao próximo. Tudo isso porque o homem tinha Deus no coração. É por isso, meu neto, que não acredito quando nossos políticos, nas suas promessas, jogam a culpa na situação sócio- econômica do País e prometem mudá-la para o bem do povo.
Enquanto não educar nosso povo, mormente uma educação religiosa, tudo será em vão.
Sei que você está me achando " piegas" mas a minha vivência me autoriza a dizê-lo. E que o lema:

"Educação para todos" seja cumprido com todo o rigor.


VOVÓ GUITA