terça-feira, 24 de abril de 2007

Eleições



Jaú, 15 de maio, de 1986.

As eleições, naquele lugarejo, eram realizadas com grandes festanças, para alegria de todos, principalmente das crianças.Era uma delícia! Não havia aula e enquanto meu pai se preocupava com seus eleitores, íamos atravessar o rio para colher ingá na outra margem. À beira daquele rio havia muitos ingazeiros ( será que ainda os há? ).
Mas as eleições traziam grande alvoroço. Aquela pacata cidadezinha se transformava! Ficava apinhada de gente! Eram eleitores que chegavam de todas as partes, a cavalo, a pé, de carroça e carro de boi. As estradas só davam passagem a essas conduções.
Todos eram recebidos pelos políticos que se desfaziam de gentilezas, iam para os "viveiros". Ali, eram servidas quantidades enormes de alimentos. Não faltavam os churrascos de carne de boi doados pelos companheiros do partido. Os gastos eram custeados pelo coronel e seus correligionários. Ninguém recebia ajuda externa. Gastava-se do próprio bolso.
" Viveiro" era o recinto onde ficavam os eleitores, naturalmente doutrinados.
Era lá que, à noite, eles mostravam a expressão artística do nosso caboclo, através do seu folclore. Dançavam cateretê em que batiam as mãos e os pés tão compassados, e com tantas habilidades, sob a cadência de uma viola, que ficávamos admirados como o conseguiam. Dançavam até fandangos! Também não tiravam o chapéu, nem para dançar! A cachaça rolava a cheio! Quando meu pai lá aparecia, os violeiros faziam um "desafio", agradecendo a hospitalidade. E como sabiam rimar! Naquele tempo o voto não era secreto. Se havia o seu lado negativo, também havia o positivo: cada macaco no seu galho, nada de ficar pulando de galho em galho. O eleitor era obrigado a manter a fidelidade partidária. A palavra empenhada era sagrada. Era aviltante trair o partido!
(qualquer semelhança à nossa conjuntura política atual, é mera coincidência).
Mulher também não votava (quanta discriminação!). Em compensação dava palpite.
Como a eleição era bastante acirrada, minha mãe temia por meu pai, que era sempre mesário. O mesário era o mais visado. Sobre ele recaia toda a responsabilidade.
é que se não fosse austero, havia "cambalacho". Ah! Se havia! Votava até defunto!
Mas não valia a pena o sacrifício? O candidato não prometeu mundos e fundos? Tem que cumprir! Promessa é divida!
Terminada a eleição a vidinha, naquele lugarejo, voltava ao normal. Não modificava nada. O tempo passava, nossa estrada continuava intransitável, a ponte sobre o rio Turvo prestes a ruir e ...Cadê o deputado? Virara a " Conceição" do Cauby Peixoto ( se sumiu, ninguém sabe , ninguém viu) sumia do mapa. E as promessas? O vento as levou! Está vendo , meu neto, como éramos ludibriados?
Ainda bem que as coisas mudaram !!! Será? Você não está vendo pelos jornais?
Ah ! Meu neto, tudo neste mundo se repete!

VOVÓ GUITA





Um comentário:

Simone Carboni P. Arcoverde disse...

Esta foto da vovó com a canga rosa da Ciça foi tirada em Vinhedo, ano novo de 2007.Estava chovendo , ela ficou com frio...Eu disse: " Vó , a senhora parece uma cigana" e então ela posou para a foto!